sábado, 2 de outubro de 2010

descargamiento 7 - g.g.marquez

“Não se tinham visto a sós, nem se tinham dito uma palavra diferente do cumprimento, na noite em que Meme Buendia sonhou que Mauricio Babilonia a salvava de um naufrágio e ela não experimentava nenhum sentimento de gratidão e sim de raiva. Era como lhe ter dado uma oportunidade que ele desejava, sendo que Meme queria o contrário, não só com ele, como também com qualquer outro homem que se interessasse por ela. Por isso ficou tão indignada que depois do sonho, em vez de detesta-lo, teria experimentado uma urgência irresistível de vê-lo. A ansiedade se fez mais intensa no correr da semana e no sábado já era tão premente que teve que fazer um esforço enorme para que Mauricio Babilônia não notasse, ao cumprimenta-la no cinema, que o coração lhe saía pela boca. Ofuscada por uma confusa sensação de prazer e de raiva, estendeu-lhe a mão ela primeira vez, e só então Mauricio Babilônia se permitiu aperta-la. Meme chegou, numa fração de segundo, a se arrepender do impulso mas o arrependimento se transformou imediatamente numa satisfação cruel, ao comprovar que também a mão dele estava suada e gelada. Nesta noite, compreendeu que não teria um instante de sossego enquanto não demonstrasse a Mauricio Babilônia quão vã era sua aspiração, e passou a semana voejando em torno dessa ansiedade. Recorreu a toda espécie de artimanhas inúteis para que Patrícia Brown a levasse para buscar o automóvel. Por último, valeu-se do Cabelo-de-fogo norte-americano que por essa época estava passando as férias em Macondo e, com o pretexto de conhecer os novos modelos de automóveis, fez-se levar às oficinas. Desde o momento em que o viu, Meme deixou de enganar a si mesma e compreendeu que o que acontecia na realidade era que não podia mais suportar o desejo de estar a sós com Mauricio Babilônia e se indignou com a certeza de que este compreendera isso ao vê-la chegar."

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