Eu já não tenho nada pra dizer a você faz um bocado de semanas. Se fosse pra ter dito, que dissesse logo, enquanto a vontade de te ver me fazia emperrar as engrenagens do trabalho, o rolo de filme no cinema, quebrar copos, pelos bares. Eu já não tenho nada pra dizer pra você, agora que a palpitação infantil transmutou-se em medo adulto. Eu não só já perdi a noite de sábado, o domingo de amanhã, acordado, girando na cama e chorando de ódio de mim mesmo; eu perdi as palavras bonitas que eu guardei pra te dizer todo esse tempo e não disse, ou disse, rabiscando seu perfil no vidro úmido do ônibus; identificando o som das suas gargalhadinhas saindo da boca da filha da vizinha. Por isso hoje me calo e te calo antes de colar sua foto na minha galeria particular dos desenganos; embora seja verdade que por esses dias corri invariavelmente de você a elas, todas elas, uma a uma, um festival de infelicidades mesquinhas, felicidades desfeitas, mas você não as merece, porque você é pequena demais, é vazia demais, não é farsa, é desgosto.
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