ser moderno é viver uma vida de paradoxo e contradição. é sentir-se fortalecido pelas imensas organizações burocráticas que detêm o poder de controlar e frequentemente destruir comunidades, valores, vidas; e ainda sentir-se compelido a enfrentar essas forças, a lutar para mudar o seu mundo transformando-o em nosso mundo. é ser ao mesmo tempo revolucionário e conservador: aberto a novas possibilidades de experiência e aventura pelo abismo niilista ao qual tantas aventuras modernas conduzem, na expectativa de criar e conservar algo real, ainda quando tudo em volta se desfaz.
logo depois de terminado esse livro, meu filho bem-amado, marc, de cinco anos, foi tirado de mim. a ele eu dedico. sua vida e sua morte trazem muitas idéias e temas do livro para bem perto: no mundo moderno, aqueles que são mais felizes na tranquilidade doméstica, como ele era, talvez sejam os mais vulneráveis aos demônios que assediam este mundo; a rotina diária de parques e bicicletas, das compras, do comer e limpar-se, dos abraços e beijos costumeiros, talvez nao seja apenas infinitamente bela e festiva, mas também infinitamente frágil e precária; manter essa vida exige talvez esforços desesperados e heróicos, e às vezes perdemos. ivan karamasov diz que, acima de tudo o mais, a morte de uma criança lhe dá ganas de devolver ao universo o seu bilhete de entrada. mas ela nao o faz. ele continua a lutar e amar; ele continua a continuar.
prefácio D (?)
tudo que é sólido desmancha no ar
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