domingo, 10 de abril de 2011

tão longo adeus para breve vida

há zonas da cidade que evito, uma série de restaurantes
onde não penso voltar. tenho muito medo de te encontrar. só ou acompanhada, tanto faz. minto. o ciúme ataca a horas incertas mesmo depois de tudo se julgar acabado. muito medo de não poder saber de antemão o que vou sentir, como vai ser, não poder antever o golpe. o medo de todas as palavras ridículas, e todas elas serão ridículas, de todos os gestos desajeitado, e não haverá nenhum que possa reclamar como meu. medo de ficar a pensar violentamente em ti du-rante horas, sabe-se lá onde, sem conseguir regressar ao normal correr do tempo. uma intromissão que exige o álcool que se põe, embebido em algodão, na ferida que reabriu para que de novo arda, palavras aflitas de uma conversa em que só eu estou de facto interessado e vou aumentando a parada provocando a memória até que faça doer. e depois o regresso a casa com o corpo anestesiado, a música aos berros, a vontade que tudo se desfaça no instante para o qual falta a coragem. chegar a casa e agarrar numa última garrafa e nas tuas fotografias até me virem os: vómitos, as lágrimas, o ranho que expulse de mim o que guardo no mais fundo e me traz a vida vazia e inútil.
tenho tanto medo de te encontrar que mesmo nunca te encontrando estás mais presente que todos os que vejo girar à minha volta.

pedro paixão

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