terça-feira, 29 de março de 2011

Freud e a academia

Profissionalmente, as frustrações que o perseguiam desde o início da carreira provocaram, em 1895, uma amargura que beirava o desespero. Querendo ser cientista pesquisador, desde cedo Freud fora obrigado, pela sua pobreza, a seguir a carreira médica. É verdade que, em 1885, ganhou com facilidade uma invejável bolsa de estudos em Paris, e logo depois foi indicado para um hospital da universidade, onde podia ter material clínico de ensino e pesquisa. Mas o hospital infantil de Viena, ao qual, desde 1886, se associou por dez anos, poucas oportunidades de pesquisa e nenhum prestígio podia lhe oferecer. Fracassaram as tentativas de transformá-lo numa clínica aplicada da universidade. A afronte mais mortificante que Freud teve de sofrer, porém, foi não conseguir uma cátedra. Sua longa espera - ao todo, dezessete anos, sendo que a regra, na faculdade de medicina, eram oito anos - coroou seu isolamento intelectual, a frustração profissional e o mal-estar social pelo que aparentava ser um fracasso acadêmico (SCHORSKE, 182).

Quando, aos 45 anos, foi finalmente nomeado como professor-adjunto, o ainda desconhecido dr. Freud relatou o evento a um amigo com uma paródia jornalística. Descreveu sua promoção como uma vitória política.
O entusiasmo  público é imenso. Chovem congratulações e ramalhetes de flores, como se o papel da sexualidade tivesse sido repentinamente reconhecido por Sua Majestade, a interpretação dos sonhos ratificada pelo Conselho de Ministros e a necessidade da terapia psicanalítica da historia aprovada por maioria de dois terços no Parlamento (SCHORSKE, 179).

Em uma outra carta, menos chistosa e amarga, na qual confessava ter recorrido à ajuda de pessoal socialmente influentes para a obtenção do cargo, escreveu:
Quando voltei de Roma, meu gosto pela vida aumentara um pouco, meu gosto pelo martírio diminuíra. (...) Assim, me decidi romper com meus escrúpulos estritos e dar os passos apropriados. (...) É preciso procurar a salvação pessoal em algum lugar, e a salvação que eu escolhi foi o título de professor. (SCHORSKE, 182).

SCHORSKE, Carl. Viena: fin-de-siècle: política e cultura. São Paulo: Cia das Letras/ Editora da Unicamp, 1989.

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