quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

novidade e capitalismo

--> sobre o que há de NOVO num sistema capitalista.
--> sobre o velho novo.
--> sobre o novo velho.
--> sobre a mediocridade universal.

"Se, como Marx acredita, os membros da burguesia de fato desejam um mercado livre, sua opção será forçar a livre entrada de novos produtos no mercado. Isto implica, em contrapartida, que toda sociedade burguesa desenvolvida de maneira plena seja uma sociedade genuinamente aberta, não apenas em termos econômicos mas também políticos e culturas, de modo que as pessoas possam sair livremente às compras e à procura dos melhores negócios em termos de idéias, associações, leis e compromissos sociais, tanto quanto em termos de coisas.


O princípio da livre troca forçaria a burguesia, portanto, a garantir até mesmo aos radicais o direito de oferecer, promover e vender seus produtos ao maior número de consumidores que seguirem atrair. Em outras palavras: impelida por suas próprias energias e movimento, a burguesia abrirá as comportas políticas e culturais através das quais fluirão transformações efetivamente profundas.


Essa dialética oferece algumas dificuldades. Haveria mesmo uma plena adesão da burguesia ao princípio da livre troca, seja em economia, em política ou em cultura? De fato, na história burguesa esse princípio tem sido mais honrado na violação do que na observância. Os membros da burguesia, sobretudo os mais poderosos, em geral se esforçam por restringir, manipular e controlar seus mercados. Muito de sua energia criativa, ao longo dos séculos, tem sido canalizada para arranjos nesse sentido: monopólios por concessão, companhias acionistas, trustes, cartéis e conglomerados., tarifas protecionistas, subsídios estatais abertos ou disfarçados, tudo isso acompanhado de hinos em louvor do livre mercado.


Aqui Marx pode correr o perigo - um perigoso perigo para ele - de ser arrastado pelo que dizer os ideólogos burgueses e de perder o contato com o que os homens de dinheiro e poder REALMENTE FAZEM. Marx diria que a necessidade de progresso e inovação capitalista forçaria os burgueses a abrir suas sociedades até mesmo às idéias que os atemorizam. No entanto, a engenhosidade burguesa pode impedir isso, através de uma dada inovação verdadeiramente insidiosa: um consenso em termos de mediocridade.


Marx diz que, quando atuam como FREIO no livre desenvolvimento, as estruturas características do sistema capitalista tendem a ser simplesmente eliminadas. "Precisam ser aniquiladas, estão aniquiladas", ele diz. Mas o que aconteceria se, por acaso, elas não fossem aniquiladas? Marx se permite imaginar essa hipótese por um instante, para descartar a possibilidade. "Perpetuar tal sistema social seria decretar a MEDIOCRIDADE e universal". E isso é talvez o que Marx é profundamente incapaz de aceitar."

BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo: Cia das Letras, 2005.

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