segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

o jung abaixo me fez lembrar esse morse:

uma crítica ao clichê mor "aaahhh, mas se pudéssemos ser como os EUA...."
uma reflexão sobre a 'tecnificação' das inteligências, do pensamento, do homem contemporâneo

"Ao matricular-se em universidades anglo-americanas, cada calouro universitário recebe um manual de como escrever 'trabalhos semestrais', de como deve documentar cada afirmação, conectá-las sempre em linha reta e escrever com a 'clareza' dos redatores de publicidade (treinados em universidades), trilhando sempre o caminho das idéias recebidas e EVITANDO A DIFICULDADE DE PENSAR.
O uso de 'materiais auxiliares' gravados, filmados e televisados vincula as aulas com os meios de comunicação e ajuda a provocar um curto-circuito no processo reflexivo, a reforçar a aprendizagem por reação, desgastando assim a autonomia mental do estudante.
Ao impor a rendição passiva a torrentes de palavras e imagens, a invasão eletrônica substitui a lógica discursiva pela associação livre. A assimilação inferior da cultura cede ante a imposição de uma sensibilidade e de um comportamento apropriados para uma sociedade tecnificada. Desse modo, o 'establishment' domestica e institucionaliza clássicos subversivos do pensamento moderno, fazendo com que venha a se graduar 'freaks ecológicos' em vez de Hegels e Nietzsches em potencial. Quanto menos chances oferecer a situação histórica de que as grandes obras efetivamente inspirem a ação humana, menores são os obstáculos para a sua publicação; quanto maior o empenho dos estudiosos ao escrever, menos significativo é o efeito comercial/editorial de suas obras.
(...)
A objetividade como método não faz senão refletir os calculados acordos dos comitês, comissões, fundos e fundações que engendram e administram as indústrias da cultura e da educação. O PENSAMENTO PERDE AUTONOMIA e confiança para abarcar a realidade, e o discurso transforma-se em pura comunicação, em vez de uma auto-expressão que PODERIA PROVOCAR DÚVIDAS E DESAGRADAR A AUDIÊNCIA.
Cindido entre experiência sensorial acumulada e formalismo lógico, o pensar é pouco mais que verificar a cada momento se somos realmente capazes de pensar. A socialização da mente encaixota-a, paralisa-a por intermédio da consciência moldada à necessidade social consensual e impede-a de imaginar conteúdos novos para a sociedade.
(...)
Ora, a questão não é que na Ibero-América a educação formal se ajuste com mais elegância à necessidade social ou às verdades eternas do que na Anglo-América. Boa parte do que oferecem as universidades ibero-americanas é tendencioso, pedante, derivativo, diplomática ou forçadamente obediente à autoridade, além de estarem mal equipadas no que se refere a bibliotecas e a toda a parafernália de computadores e laboratórios de idiomas.
Porém, o que conta é a sociologia e não a modernidade do empreendimento intelectual. E o fato é que tais universidades também carecem da habilidade das anglo-americanas para cooptar e esterilizar os 'escritores criativos' os marxistas, as feministas e os etnicamente estigmatizados."

MORSE, Richard. "O espelho de Próspero". São Paulo: Cia das Letras, 2001.

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