quinta-feira, 8 de outubro de 2009

me amäo

Trechos comentados de um artigo da revista “Vida Boba e Simples”, escrito por Ronaldo Bressane. Saiu na edição 84 da revista, em outubro deste ano – 2009.

Numa amostragem de 35 mil jovens, se descobriu que 6% sofriam de transtorno obsessivo narcisista. “Um dado a comprovar que estamos em uma epidemia fora de controle”, afirma o psicólogo W. Keith Campbell.

As Helenas de Manoel Carlos são falhas, sempre EGOCENTRICAMENTE falhas - taí a personagem de Taís Araújo pra não me deixar mentir: toda vez que ligo a TV no horário nobre me pergunto se de fato uma sujeitinha tãaao chata e melindrosa poderia ser tão amada na vida real tal como o é no folhetim por tudo e todos. Poderia? Os BBB’s batem no peito, pra dizer: “eu sou assim, quem quiser gostar de mim, eu sou assim”, e permanecem imunes aos votos do público. A comunidade orkutiana “Foda-se quem me odeia” reúne 1.646.444 seguros de sí. Eu? Me CHOCO com as fotos postadas em alta definição, com meninas exibindo seus guarda-roupas e fazendo caras e bocas, aguardando comentários do tipo: “Gatona! Adorei seu casaco! Que braço magro! Tá linda!”
Ainda me pergunto qual a interessância do Twitter (por isso me interesso). Um amigo usa pra receber e repassar informações, breves, é claro, como manda a lógica de edição internet/celular. É trabalho de passarinho, querendo erguer uma baleia inteira! Aham! Não sei se é porque eu sou lerda, mas acho trabalho demais, pra se perder um dia todo, e acabar não sabendo nada sobre nada daquilo que você divulgou! É aquela coisa: de informações mal aprofundadas e (por isso) deturpadas o inferno tá cheio. Porém, o que mais me intriga é que a grande maioria se preocupa, no Twitter, em PRODUZIR informações. Sobre? Sobre? Sobre? Sobre sí! Informações completamente dispensáveis, diga-se de passagem, em geral não lidas por nenhum dos seguidores, sem tempo pois já tem coisa demais a fazer: repassar piadas e informações, sobretudo falar de si mesmos, e ainda, minha gente, trabalhar, amar, viver.
Que mais? Me dá nos nervos o papinho psicólogo-de-porta-de-escola-privada: dê colinho, entenda, escute. Por quê? Porque a cada dia que passa o que mais percebo é que as crianças classe-média de hoje precisam ouvir “não e ponto”. Porque, gente, a vida é CHEIA de “nãos”, e essas crianças estão indo pro mundo com a impressão superequivocada de que DEVEM ser compreendidas, de que serão importantes, chiques e famosos, de que terão uma vida de ofertas ilimitadas para diversão a toda hora.


Campbell enumera quatro causas para a atual epidemia de narcisismo: a educação dos pais, a cultura de celebridades, a mídia e o crédito barato. “Muitos pais tratam seus filhos como reis”. “Reality shows são altamente narcisistas, e supõe-se que sejam a vida real; neles, subentende-se que o narcisismo é algo normal.”
Para piorar, crédito barato faz com que os jovens gastem para se parecerem melhores do que realmente são. Claro que esse argumento financeiro tem muito a ver com a realidade americana, onde bolhas econômicas costumam ser uma rotina – mas, afinal, o mundo está cada vez mais parecido com os Estados Unidos.

Ao final do artigo, Bressane apresenta alguns traços-típicos do comportamento narcísico:
- Você possui senso grandioso de autoimportância?
- Preocupa-se demasiadamente com fantasias de sucesso?
- Manipula os demais para conseguir atingir seus próprios objetivos?
- Tem expectativas além do razoável de receber tratamento favorável?
- Acredita que é especial e que só pode ser compreendido por outras pessoas também especiais?
- Acredita que os outros têm inveja de você?
- Não tem disposição para compreender os outros, as diferenças? Rotula? Discrimina?
- É costumeiramente arrogante? Insolente? Não se constrange, se arrepende ou se questiona quando é prepotente e/ou desagradável com alguém?

Mas Bressane não nos oferece tão somente uma visão catastrófica da coisa:
A valorização do discurso da auto-estima e a febre da auto-ajuda são as culpadas dessa apoteose ao me-achismo. Porém, como depois da tempestade sempre vem a abundância, como deduziria o pensador Vicente Matheus, imagino que daqui a alguns anos a loucura narcísica dará valor à autocasta-de-banana, ao autofail: aprenderemos a puxar em público nosso próprio tapete.

Aprenderemos tanto a falar de nós, que nos sentiremos à vontade para exibir também nossas falhas?
Eu acho engraçado quando alguém vem me dizer que não concorda com algo que eu disse. Desde as criancinhas do colégio aos coleguinhas uspianos, o olhar de bondade superior é bastante característico. Existem frases clichês muito usadas nestes contextos: “Cá entre nós...”, ou “Não me leve a mal...”
Eu não me aborreço com sugestões e críticas. Isso serve pra gente apliar o olhar. Mudar, crescer. Ou seja lá o que for! Mas me aborreço e muito com os volteios artificiais que costumam anteceder a crítica!


Não é possível se dizer apenas “Olha, eu não concordo. Eu sou diferente de você. Eu vejo diferente. Pensamos de maneira opostas.”? Meus interlocutores respondem como se estivessem derrubando uma teoria milenar (a minha) com uma explicação científica irrebatível (a deles). Não enxergam eles a fragilidades de seus próprios argumentos?
Minha irmã sempre me pergunta: “Sou apenas eu que não tenho 100% de certeza a respeito de absolutamente tudo que eu penso?” Eu, sinceramente, nunca sei exatamente do que é que estou falando! rs Será que essa gente toda sabe?
Digamos, sobre a previsão de Bressane, que para o gozo de todos (arrogantes ou perdidos no mundo) ela há de se concretizar! E é isso que devemos buscar, nas escolas, na academia: um pouco mais de gentileza sincera no aprender e no pensar, um pouco menos de vaidade, um respeito maior pela maneira como o outro vê o mundo. Concessões, eu diria. Sem pressa. Sem garantias. Não para hoje, não para hoje.

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